Quem sou eu

Minha foto
Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

UM DIA NA VIDA DE MARCELA (Beatriz Oliveira)

Marcela abriu os olhos ao despertar do relógio. Cinco horas. Espreguiçou-se, olhou para Roberto, que ainda roncava sob o edredom, e se levantou. Lavou o rosto e se olhou no espelho.

_ Nossa, que horror! Preciso de uma boa maquiagem hoje.

Foi-se arrastando até a cozinha e, ainda sonolenta, triturou alguns dentes de alho, refogou-os e jogou o arroz que havia lavado de véspera. Retirou a carne assada do freezer e deixou-a sobre a pia. Enquanto o arroz cozinhava, lavou as folhas de alface e agrião que comporiam a salada do almoço.

Roberto chegou na porta da cozinha e perguntou se o café já estava pronto.

_ Ainda não. Bom dia pra você também.

Marcela colocou água na cafeteira e foi acordar os filhos. Eduardo, com dezessete anos, e Ester, com quinze. Ambos levantaram após o beijo matinal, não sem antes reclamarem do carinho desnecessário.

Marcela tomou um banho meio frio, para despertar completamente. Teria um dia cheio: quatro casas para mostrar e… vender! Ao descer, Eduardo tinha terminado o café e já estava saindo.

_ Preciso ir. – Disse, carregando com os pés a passadeira da sala. E bateu a porta com força.

Marcela tomou café com os filhos, que logo se despediram e foram para a escola. Ela, então, foi ao quarto e vestiu um terninho cor de vinho e uma blusa preta, com decote em V, que lhe realçava os seios.

Foi até o banheiro e conseguiu, finalmente, urinar em paz. Sentada na privada, começou a olhar em volta e percebeu como o seu banheiro era bonito. Azulejado de azul petróleo, até o teto, com uma faixa larga de cor branca, mesclada com azul claro. Seu box era de vidro jateado e escondia um banheira individual, mas confortável. Tinha uma casa bonita.

Roberto era um advogado de sucesso e ambos conseguiram construir a casa de seus sonhos, à custa de muito trabalho e de muitos desentendimentos. Agora, tinham uma boa situação financeira, mas quase nem se falavam. Quando Roberto demonstrava interesse em transar, ela se submetia. Mas não era como antes…

Marcela se lembrou de que tinha marcado hora com um cliente. Passou um pouco de rouge, lápis preto nos olhos, rimel e um batom da cor do terno. Calçou os saltos pretos que já aguardavam atrás da porta e, passando a mão na bolsa preta, previamente arrumada, saiu correndo pela porta afora. No carro, ajeitou os cabelos curtos e arrancou.
Mostrou três casas, até às duas da tarde. Os clientes se mostraram muito interessados, mas ficaram de dar a resposta depois. Marcela sabia que não era um bom sinal. Resolveu comer alguma coisa e entrou num restaurante self-service, próximo da praça central da cidade. Serviu-se e comeu, com certo desânimo: ainda faltava uma casa para mostrar. Estava louca para tomar um banho e se deitar no sofá da sala. Mas ainda tinha que dirigir por cerca de uma hora, até a casa na periferia.

Terminou o almoço, foi até o banheiro e escovou os dentes. Ajeitou um pouco os cabelos, retocou o batom e saiu. Sentou-se no banco do carro, suspirou e deu a partida. Dirigiu até a casa, ouvindo um CD de Alicia Keys.

Ao chegar, se deparou com uma caminhoneta verde musgo, parada em frente à casa. Desceu do carro, pensando:

- Deve ser um velho chato e indeciso.

Suspirou profundamente, enquanto pegava a bolsa e, ao virar-se, deu de cara com uma mulher alta, loura, esguia e desconcertantemente bela. Usava uma saia justa, abaixo do joelho, cor de uva, e uma blusa lilás, transparente, que deixava ver o sutiã preto, meia-taça. Seu rosto era alongado, seus olhos azuis sobressaíam com o lápis preto e as sobrancelhas grossas, mas desenhadas. Os cabelos soltos estavam levemente desgrenhados. Seus lábios eram grossos e tinham um aspecto molhado. Marcela ficou paralisada por um instante. Nunca havia visto uma mulher tão bela. De repente, sentiu-se frustrada por não ser tão bonita. Será que seu casamento chegara ao fim por causa de uma outra mulher como aquela? Não era possível! Ela era perfeita. Não havia outra mulher igual. Mas o que eram esses pensamentos em sua cabeça?

- Senhora Casaes? Está tudo bem?

- Sim, sim. Desculpe-me. Estou um pouco avoada hoje. Acho que é trabalho demais. Espero não ter-me atrasado.

- Não, não. Fui eu quem chegou cedo demais. Sou muito ansiosa e a descrição desta casa me fez sonhar, senhora Casaes.

- Por favor, me chame de Marcela.

- Agatha. Muito prazer.

- Vamos entrar?

Marcela estava sentindo um calor absurdo e sua cabeça estava um redemoinho. Por que perdera tanto tempo analisando uma mulher?

Marcela abriu a porta e deixou Agatha entrar primeiro. A sala era muito clara e tinha alguns móveis e tapetes.

- Os proprietários deixaram a mobília, porque se mudaram para longe e em regime de emergência. Parece que algum parente doente…

Ágatha foi percorrendo os corredores e encontrou a cozinha. Muito ampla e cheia de apetrechos pendurados. Ágatha tirou da bolsa um pacotinho de chá de hortelã, enquanto Marcela falava e falava sobre as qualidades da casa.

A visitante ferveu água e fez chá para duas. Estendeu a xícara para Marcela:

- Acho que você precisa relaxar um pouco, senhora Casaes.

Marcela pegou a xícara e ambas se dirigiram à sala de estar. Depois do segundo gole, bem quente, Marcela sentiu-se relaxar e se sentou no sofá macio. Ágatha a observava detidamente. Após notar a aliança de ouro em sua mão esquerda, perguntou.

- Senhora Casaes, a senhora é feliz em seu casamento?

Marcela deu um pulo e engasgou. Mas o olhar de Ágatha era enfeitiçante. Ela baixou a cabeça e confessou que há muitos meses não sabia o que era um orgasmo. Ágatha se sentou ao lado de Marcela e encostou, quase sem querer o joelho na perna dela. Marcela se arrepiou. Ágatha levou a mão esquerda até a orelha direita de Marcela e elogiou o brinco de pérola.

- Você parece tão doce, senhora Casaes.

Marcela se entregou ao carinho, fechando os olhos. Ágatha se aproximou e elogiou seus cabelos, passando de leve os dedos por entre os pequenos cachos. Aproximou sua boca do ouvido de Marcela e sussurrou algo quente.

Marcela amoleceu e se deixou escorregar pelo sofá. Ágatha abriu a blusa da corretora e acariciou seus seios com um carinho profundo, e sugou-os, alternadamente, como um bebê. Levantou a saia de Marcela e lhe acariciou até o êxtase. Desceu as mãos pelas pernas e abriu-as, delicadamente, enquanto as beijava. E, com um carinho intenso, começou a lamber sua vulva, primeiro levemente, depois com rapidez, até Marcela gemer de prazer.

Ágatha, se levantou foi até o banheiro e lavou o rosto e as mãos. Passou pela sala, onde Marcela ainda se encontrava estirada sobre o sofá.

- Não gostei da casa, senhora Casaes, mas adorei a tarde. Até mais.

Ágatha saiu e deu partida no carro. Marcela levou algum tempo para se erguer. Não acreditava no que tinha acontecido. Levantou-se, lavou-se no banheiro, arrumou os cabelos e saiu, fechando a casa.

- Outra venda perdida.

Marcela dirigiu até em casa, com um sorriso nos lábios. Seus pensamentos estavam voltados para o fato de que nunca tivera um orgasmo por sexo oral com Roberto. Ao chegar em casa, beijou as crianças e subiu. Tomou um longo banho, sentindo ainda a pele de Ágatha na sua.

Quando Roberto chegou, ela estava deitada no sofá da sala, como sonhara a manhã inteira. Sem dizer palavra, Marcela se levantou e colocou a mesa para o jantar. Todas as atenções estavam voltadas para os dois adolescentes.

_ Como foi na escola, hoje?

_ Quando será a prova de matemática?

_ Coma de boca fechada! Que mania!

_ Quantas vezes eu já disse para prender os cabelos antes de se sentar à mesa?

Após o jantar, as “crianças” foram para seus quartos. Roberto colocou dois cálices de licor de cacau e ofereceu um à Marcela. Ela já sabia o que aquele gesto significava.

Ambos subiram e Roberto apagou as luzes. Quando Marcela se deitou, ele a abraçou por trás cheirando seu pescoço. Marcela sucumbiu. Fingiu o orgasmo, como já fazia há muito tempo.

Roberto olhou para ela, levantando um pouco uma das sobrancelhas e sorrindo de lado. Ela sorriu levemente e deu um suspiro. Era o sinal de que tinha sido bom.

Roberto desligou o abajur e se virou de costas para Marcela. Ela também se virou de costas para ele. Ficou um tempo olhando para um ponto fixo na parede escura, pensando na vida vazia que tinha. Finalmente, adormeceu e sonhou a noite inteira com a tarde de prazer que teve com aquela mulher que não conhecia, mas que a conhecia como ninguém; e que jamais veria de novo, mas que nunca mais esqueceria.

Um comentário:

rampion disse...

muito bom, ótima narrativa.gostei muito. muito real.