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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

domingo, 24 de maio de 2015

A DOENÇA DA MALDADE – Beatriz Oliveira



Tenho visto, ouvido e lido, ultimamente, várias notícias acerca das violências praticadas por e em desfavor do ser humano. Confesso que sempre me tocou grande preocupação com o bem estar da humanidade, mas percebo que, a cada dia, a humanidade se faz mais enferma.
Os últimos acontecimentos deixaram-me perplexa pela própria natureza das violências.
Venho acompanhando pelo noticiário a prática de assaltos seguidos de lesões à faca, praticados por adolescentes pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Não me espantei com a morte do médico Jaime Gold, embora penalizada e solidária à família, pois já pensava que, em algum momento, algo parecido aconteceria. O que, de fato, me espanta é a inércia do governo e da população frente a episódios como esse. Os fatos bem se parecem com as contumazes enchentes e deslizamentos que ocorrem anualmente na Região Serrana do Rio, que governo e população ignoram e não prezam por evitar.
Ouço candidatos, governantes e população falando sobre pena de morte, redução da maioridade penal, cotas inter-raciais... E penso em como estão confusas as cabeças brasileiras!
Medidas paliativas e agressivas não resolverão os problemas do Brasil! Como as pessoas rapidamente se esquecem do passado e se inflamam pelos resultados imediatos, sem planejarem o futuro, os sistemas governistas montam as suas táticas de controle e dominam as nossas vidas, com estratégias de longo prazo.
As cotas para negros e pobres são uma ótima saída para as pessoas que já passaram por um sistema de educação falido e não possuem oportunidades atualmente, contudo, em paralelo, deve-se investir verdadeiramente na educação de base, a fim de que todos: brancos, negros, pobres e ricos possam competir pelas vagas em igual condição. Mas isso não está sendo feito!
A pena de morte, medida igualmente paliativa, somente serviria para reduzir a população carcerária, pois na verdade, os países que a praticam também possuem criminosos e os crimes continuam ocorrendo. Além disso, sabemos que a maioria esmagadora dos detentos é negra e pobre e, como o homem é falho, muitos estão lá injustamente; vemos, vez por outra, na TV as ocorrências de erros que imputam penas longas a pessoas inocentes. Imaginem essas pessoas inocentes morrendo injustamente, se aqui houvesse pena de morte!
A moda agora é a redução da maioridade penal! O que será que pretende o sistema governista ao permitir tal proposta? Não penso, jamais, em impunidade para adultos ou adolescentes! Mas penso que a questão está muito além de simplesmente colocar jovens abandonados pela vida atrás das grades.
Fiquei assombrada com duas notícias veiculadas há pouco. A jovem Andressa, de vinte anos de idade, chama a filha, com apenas seis meses de nascida, de “desgraça”, a tortura e sufoca com uma fralda e, além de tudo, filma o que faz! Com certeza, há pessoas desejando a morte de Andressa. As ações dela são repugnantes! Mas eu gostaria que todas as “Andressas” do Brasil fossem conhecidas e quantificadas. Realmente, há pessoas más no mundo, mas o número de pessoas más vem aumentando consideravelmente!
A outra notícia que me chocou foi sobre a morte incomum de Christopher Marquez, um mexicano de seis anos de idade. Duas meninas e três meninos, primos e irmãos de Christopher, resolveram brincar do que chamaram de “jogo do sequestro” e o menino era o sequestrado. Amarraram-lhe os braços e pernas e depois passaram a bater na criança com pedaços de madeira e pedras. Em seguida, um de seus irmãos o sufocou e o menino ainda foi esfaqueado para que não houvesse chances de sobrevivência. Enterraram-no em um terreno baldio, juntamente com a carcaça de um bezerro para “disfarçar o cheiro”. Sim! Foram crianças de doze a quinze anos que fizeram isso! Pena de morte a elas! Redução da maioridade penal para onze anos!
Fico assustada com uma maldade, mas fico estarrecida quando há muitas pessoas envolvidas nessa maldade! Será que as pessoas não percebem que a humanidade está doente? Um jovem homicida, sádico, praticar tortura contra outro ser humano é medonho, mas compreensível, pela própria natureza humana. Mas cinco adolescentes vizinhos e parentes da vítima, se juntarem com esse único propósito? Nenhum deles desistiu, achou que era demais? Nenhum deles teve medo, remorso?
 Infelizmente, penso que as pessoas vêm se transformando em sociopatas! Atitudes impulsivas e incontroláveis, frieza, insensibilidade com relação às outras pessoas, ausência de valores morais, desobediência persistente, crueldade com animais, destruição de propriedade, comportamento desafiador, agressividade, desrespeito às normas e regras, mentiras, mudanças súbitas de temperamento, furtos, fugas de casa... Reconhecem os sintomas da sociopatia em nossas crianças e jovens adultos?
O mundo globalizado ensina consumismo, arrogância, disputa e egoísmo. Os pais dessa geração foram crianças maltratadas pelo todo. Os adultos que praticam violências hoje, sofreram-nas, quando pequenos. Como maltratadas não digo somente as crianças pobres! Falo dos filhos de pais separados, cujas mães precisam trabalhar o dia inteiro e delegar a educação de seus filhos a terceiros; dos filhos cujos pais trabalham em grandes empresas, viajam e não têm tempo de perguntar se aquele muxoxo é devido a alguma tristeza ou insatisfação; dos filhos de pais que querem, a todo custo, a sua entrada no mercado de trabalho, mesmo que não seja esse o caminho desejado pelos filhos. Falo de crianças que precisam de um lar, não simplesmente uma casa, de conhecer a ética, a moral e o respeito ao próximo, a solidariedade. Sendo criados assim, sem parâmetros, que tipo de crianças esses pais poderiam educar? E nós? Podemos exigir de alguém aquilo que ele não possui, que ele desconhece?
O nosso trabalho deve ser feito paulatinamente, com profundeza e seriedade se quisermos, de fato, minorar os efeitos dessa violência. Mas os resultados são de longo prazo...
Não podemos mais fingir que nada está acontecendo e cuidarmos cada um de si. As proporções da violência e da deseducação foram longe demais!
Basta de placebos e paliativos! Vamos dar mais atenção às nossas crianças, desligar a TV e o computador e ir ao teatro, ao museu; vamos ensinar (e cobrar!) atitudes responsáveis e de fundo ético delas, desde pequenas; vamos exigir que as pessoas respeitem as nossas crianças e ensinemos o respeito também a elas; exijamos educação e saúde de qualidade, não só para os nossos filhos, mas os filhos de todos os brasileiros; obriguemos os detentos a trabalharem para terem direito a comida, vestimenta e abrigo, tal qual fazem os cidadãos de bem; que o governo ofereça cursos profissionalizantes para os presos que serão obrigados a cursa-los, bem como tratamentos de saúde, inclusive psiquiátrico, de qualidade; exijamos que os corruptos, políticos ou não, cumpram suas penas na cadeia, não em domicílio que, não raro, se estendem a Cancún; analisemos a possibilidade da prisão perpétua para os crimes hediondos e de não se colocar na rua traficantes e larápios em regime semiaberto, por falta de lugar nas penitenciárias; digamos “não” aos indultos...

Eu sei que isso tudo é uma utopia! Mas nós não podemos mais ignorar o fato de que a doença da maldade atingiu, em cheio, esse país, que foi uma doença planejada a fim de imobilizar o povo e já se tornou endêmica. E como toda doença ela precisa de tratamento, não de extirpação!