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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

domingo, 27 de novembro de 2011

BELEZAS (Beatriz Oliveira)


Por que algumas pessoas são tão lindas sendo apenas normais?
Analisando-se fria e plasticamente, são pessoas comuns, com algum pouco atrativo e, às vezes, nenhum.
Caso em que me assusta.
E mesmo assim, tão comuns, sem adornos carnais excessivos, sem simetria marcada no rosto e nem olhos azuis ou verdes, algumas pessoas são tão lindas!
Tão impulsiva e descaradamente lindas que me levam a pensar na efetiva superficialidade da aparência associada à profundidade do pensamento inoculador; na seriedade das falsas relações humanas atuais.
Quais são as razões únicas que fazem de cada ser humano um ser especial capaz de ser amado verdadeiramente, pela sua beleza ou pelo seu conteúdo?
Por que algumas pessoas com tanto conteúdo são amadas como pessoas tão normais, quando não o são?
Conteúdo não se perde, não se complica, não se destrói, não se deteriora, conteúdo se renova, evolui.
Não é fácil amar conteúdo, quando se está acostumado a amar superfície.
Simetria, azul e harmonia distraem os sentidos e o pensamento se liberta de pensar.
A folha que boia ama a folha que boia.
A pedra que afunda ama a pedra que afunda.
Por isso, eu acho tão belas algumas pessoas que são apenas normais.
Pessoas que têm beleza assimétrica, divergente, inarmonica, para que eu possa gastar do meu tempo em analisá-las, envolvendo-me, conhecendo-a em cada imperfeição, enquanto ouço a verdadeira beleza de seus lábios, mente e coração.
A beleza toma todo o seu olhar e você não vê mais nada além dela.
O pensamento faz que você veja luz, harmonia, inteligência, amor e, com ele, a beleza que não cessa.
Por que algumas pessoas são tão lindas sendo apenas normais?
Porque elas trazem dentro de si o seu EU desperto, forte, seu deus.
E ai de quem não puder lhe dizer não! Será sim, um seu escravo.
Não da carne, mas do seu espírito, enquanto viverem.

DELÍRIOS DO STILNOX (Beatriz Oliveira)


Eu me sento no sofá vermelho e macio, pensando, já, em refestelar-me. Mas ainda não me é possível, pois tenho o prato de sopa nas mãos equilibrado. Vou sorvendo o creme espesso, com sabor de frango e pequenos filetes de salsa e fiapos de carne da ave. É bem saborosa e aquece o corpo. Sim. Eu estou com frio. Tenho os pés frios e as unhas das mãos levemente arroxeadas pela baixa temperatura, mas simplesmente não tenho coragem de largar o prato, levantar-me, seguir até o quaro, abrir três ou quatro gavetas até encontrar o pijama longo e meias, vestir-me, equilibrar a minha temperatura interna, por conta do tecido frio do pijama, voltar para o sofá, sentar, equilibrando o prato com sopa, colocar novamente o guardanapo ao alcance e recomeçar o ato de sorver.
Essa quebra na rotina simples seria uma bobagem, para alguns, entretanto, para mim significaria abdicar de um momento íntimo de relação comigo mesma, em que eu me equilibro e lido com o meu medo-desejo em relação ao alimento. Esse momento de identificação precisa ser clarificado na mente como um processo de autoconhecimento e libertação. Eu reconheço que sou prisioneira do calor da minha sopa. Mais do que do frio do tempo. Se fosse um sanduíche, eu levantaria. Um qualquer outro prato, eu levantaria. Exceto risoto de funghi. Tudo aclarado, pode-se dizer que, após a sopa quente, no meu sofá vermelho macio, o meu corpo foi-se largando, como se ali fosse ficar para sempre. E eu pude imaginar… Sem ética, educação, sociedade…
Ali eu ficaria. Esparramada no sofá, o prato no chão. Deu sono. Deitei e dormi. Deu calor. Despi-me. Deu tesão. Satisfiz-me. Deu sede. Abri a boca e veio a água. Deu fome. Abri a boca e a comida veio. Liguei a TV, deitada mesmo. Assisti O Clone, El Secreto De Tus Ojos, Inception, The Fountain. Chorei. Desejei justiça. Chorei. Desejei conhecimento. Chorei. Li As Intermitências da Morte, O Ensaio sobre a Cegueira, Clarice na Cabeceira. Gargalhei e chorei. Chorei. Chorei demais da conta! Desejei não pensar, dormi. Dormi muito mesmo! Três dias, seis dias, nove dias! Mas sonhei meu EU. Chorei. O que leva certas pessoas a serem ativas e outras extáticas? O que leva alguém mesmo extático a pensar, como se ativo fosse? A mente e o corpo se entorpecem, mas há uma parte de mim… Há uma parte que teima em emergir e, quanto mais empurrada para o fundo, mais ela impulsiona, no fundo, os pés com o intuito de elevar-se além da superfície.
Não há sonífero bastante! Ha ha ha! Não há entorpecente que segure o que eu sou! Na verdade, penso que o veneno me detona. Paralisa meu corpo e meu estado mental crítico, deixando-me a sós comigo mesma. Isso, embora seja extremamente perigoso, é também, por demais excitante. Pequeníssimas ondas, quase imperceptíveis de choque levíssimo, vão percorrendo minha nuca, minha lombar e meu púbis, como se houvesse pequenas borboletas agitando com velocidade inimaginável as suas finíssimas asas nessas partes do meu corpo.
Penso em tocar-me e sentir aumentadas as ondas, mas os meus olhos estão pesados.
O sonífero é bastante!
O sonífero é bastante.
O sonífero…

DO PRAZER MANIPULADO - Beatriz Oliveira




O prazer é uma linha de ouro bordada no tecido da falta de motivo.

- Por quê? Por quê eu deveria me dar ao trabalho de fazer tal coisa?

- Porque é o prazer. É muito bom e não se desperdiçam delícias nesse mundo de

pobreza e falta de ética.

- Borda o prazer e se enrola no tecido da falta de motivo, se enrola, enquanto ele

pode te cobrir até os tornozelos.

Pois haverá tempo em que o tecido da falta de motivo bordado com a linha de ouro

do prazer somente será capaz de te cobrir o sexo.

Ah, o desdém.

Ai, de Adão e Eva modernizados.

Ai, ai...

BISCOITO FINO - Beatriz Oliveira



O meu olfato segue às ordens de um general maldito.

Tal como todos os lassos, raramente me desperta.

No entanto, ao despertar, envolve-me, pegando os braços,

Pernas, rompendo-me o livor e inebriando-me de odores,

Enleando-me, aos seios, com sentimentos crassos.

Uma vez, assim, envolvida, minha pele toma vida e cria.

Pela pele tudo posso!

Qualquer coisa que passar por mim, é com todo o corpo que eu cheiro e sinto.

De uma árvore eu sinto o musgo fresco e ácido, a umidade através dos poros,

O gosto verde, através do cheiro.

Do mar eu sinto o sal, a cura, o frio, através dos poros,

A solidão do mar, através do cheiro molhado.

Do rapaz moreno eu sinto o sabonete, a proposta e a invasão,

Enquanto minha pele é agredida por minúsculos soldados nus.

Os soldadinhos me invadem a carne com pequeníssimas bombas de perfume

E eu fico totalmente inebriada.

O perfume tornou-se, agora, uma capa de filme plástico, daquelas que cobrem tudo

E ele me cobre toda, da cabeça aos pés, deixando por último o nariz
,
Onde vai entrando agora lentamente, como o meu último sopro de vida,

Entorpecendo-me e me transtornando, ando já perdendo o ar!

Esgazeando, com a boca aberta, imploro por salvamento, quiçá um beijo.

Mas o rapaz é só um passageiro e se mantém no seu papel.

Quero controlar o olfato, desligar o pensamento,

Mas o general não permite!

Passa o vento e o perfume vem. Malditos soldadinhos infames!

Fecho os olhos de prazer. Será isso o prazer completo?

Amar alguém enquanto se é perdido por um odor tão espetacularmente envolvente?

Perder-se em delírio saboreando um delicioso biscoito fino

Feito de olhares, toques e odores de pele de menino?