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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O ESPELHO (Beatriz Oliveira)

Você já viu um espelho?

Este objeto consiste num interessantíssimo vidro ou cristal, com aço dourado ou prateado numa das faces e emoldurado, às vezes, numa armação luxuosa, às vezes nu’a madeira vagabunda, e que reflete todas as coisas que se põem diante dele. Exceto os vampiros.

É fantástica essa capacidade de reflexão: captar uma imagem, analisá-la e emitir um parecer, quase sempre correto. É verdade que, às vezes, o magro parece mais magro, ou mais gordo e o gordo parece mais gordo ainda e, numa margem considerável de erro, o gordo nunca parece mais magro. Coisas do espelho.Você já se viu num espelho?

Se você olhar bem depressa, vai ver só você, mas se olhar mais detidamente vai perceber que o seu olho direito está mais à esquerda que o seu olho esquerdo; que o seu nariz parece mais o túnel dois irmãos; que o seu canino direito pressiona, levemente, o seu lábio inferior, fazendo-o parecer um cão buldogue; que o seu pescoço podia ser um pouco mais compridinho…; que as suas pernas te lembram (e você não sabe por quê) aquele jogador famoso, o Garrincha, e que, olhando bem direitinho, finalmente, aquele chopinho fez efeito: sua barriga está uma gelatina, gorda e mole.

Mas, ao final do seu auto-estudo corporal, você descobre uma coisa horrível, mas, ao mesmo tempo, maravilhosa, aquele sujeito no espelho é você!

A primeira descoberta do espelho, geralmente, é em casa e é dolorosa, porque depois que você descobre um, todo lugar que você passa tem outro e mais outro e mais outro. Aí, você vira a cara, corre, passa de costas, se veste diferente, se pinta, mas não adianta, aquele ainda é você!

Até você se acostumar, muita coisa vai rolar! Aí, você se conforma: “o que não tem remédio, remediado está”.

Depois dessa descoberta, você se olha diferente e começa, até, a se achar um cara legal: fica bem com aquela blusa estampada que você adorou e aquele tênis até deixou seu pé menorzinho…

Aí, você começa a se amar. Mas como, para o ser humano, não há limites, você se ama tanto, que passa horas olhando aquela pintinha no seu bum-bum e mexendo naquele único pelinho que há no seu peito e que o seu par disse que “é o seu charme”!

E você se adora tanto, que começa a comparar as pessoas com você e nota que o seu par vive brigando por causa do jeito que você come e porque você não quer aprender a dançar, mas que você se dá muito bem consigo mesmo. Aí, você começa a querer transformar o seu bem em você. E você luta tanto por isso, que acaba cansando-o e a si próprio.

Mas, depois de um tempo, você descobre uma coisa mais horrível do que o espelho: é que você gostou tanto da sua imagem que não amou o seu companheiro, amou a possibilidade do seu próprio reflexo nele, transformou-o num espelho. Mas ele não quer ser espelho, ele quer ser humano e vai procurar alguém que não conheça só o seu próprio reflexo e você só vai ver você mesmo, sozinho, naquele espelho que há na porta do seu guarda-roupa, dentro do seu quarto.

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