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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

domingo, 15 de novembro de 2015

MARIANA – Beatriz Oliveira (15/11/2015)




Mariana era uma moça acolhedora e linda!
Cheia de sonhos floridos, desejos verdejantes...
Mariana, agora, já não é como era antes
E vive, hoje, uma tristeza infinda!

O amor não deu sorte a Mariana.
O homem que ela amava não a amou
E, apesar de todas as dádivas doadas,
Destruiu, explorou, ignorou, enganou...

O homem arrastou a luz de Mariana
E jogou seus sonhos sob o rio,
E o rio que era doce hoje amarga
A dor e o abandono deletério.

Ela se divide em muitos corpos
E vive inundada de mentiras,
Tentando levantar os olhos mortos:
Fraqueza pela força, numa catira.

Mariana, então, se põe, hoje, à janela
E olha insone a correnteza de lama.
E a gente pode ver nos olhos dela

Os olhos do homem mau que ela ainda ama.

COBERTA DE LAMA – Beatriz Oliveira




Meu coração está triste! Muito triste...
Mais uma vez, a vida humana é tratada como lixo. O lixo espalhado em Mariana, o lixo espalhado em Paris. Por motivos distintos, porém não distantes.
O capitalismo selvagem transforma, irrompe, arrasta corpos. O fundamentalismo religioso e a ganância explodem o amor, a igualdade, a importância das almas.
São duas batalhas, duas derrotas humanas nesse plano de evolução.
Trazendo ao mundo material, sinto muitíssimo pelas vidas perdidas em Paris, pelos feridos, pelas famílias! Contudo, desgraças imensas ocorrem em nosso país diariamente e nem os governos, nem o povo valoriza o quanto deve. Mariana e várias outras cidades circunvizinhas sofrem e sofrerão os efeitos desse derrame e as consequências da desvalorização do humano, da natureza. E somente o tempo poderá mostrar o tamanho da desgraça.
Nosso país! É a nossa casa! O lugar em que vivemos e, provavelmente viverão nossos filhos, netos e bisnetos. Quando será que vamos entender a importância de se arrumar a própria casa?
O brasileiro, em geral, vive numa casa rota, suja e que pode desabar a qualquer momento, sem se dar conta disso. Os governos empurram goela abaixo programas de “emburrecimento”, ignorância, descrédito, desvalorização do ser humano, da família, do espírito, programas de redução da autoestima e das capacidades individuais de cada brasileiro.
Adultos infantilizados pela miséria de suas almas somente se importam com o seu próprio bem estar.  Aliás, enquanto houver som, cerveja e bunda de fora, estará tudo bem!

Não só Mariana está derrocada! O país inteiro se encontra agonizante sob o leito do Rio Doce.  Que me perdoe o resto do mundo, mas neste dia, meu colorido é coberto de lama!

domingo, 8 de novembro de 2015

DO PRECONCEITO E DO MEDO - BEATRIZ OLIVEIRA



Espanta-me o temperamento belicoso de algumas pessoas! Há coisas tão importantes nesse país pelas quais se deve lutar e as pessoas terminam por desperdiçar a sua energia com lutas vãs.
Sabe aquela velha história do sensor de metais na porta das agências bancárias? Pois bem. Volta e meia, presencio pessoas discutindo com os seguranças da agência porque são obrigadas a colocar moedas, chaves, celulares e outros objetos metálicos no porta-objetos. As pessoas levam tão a sério a questão do dano extra patrimonial que não conseguem avaliar o que representa, de fato, um dano e o que é, apenas, um mero aborrecimento, um contratempo.
Todos sabemos, através da mídia, que os coletivos da Viação Amparo têm sido alvo de inúmeros assaltos, infelizmente. Meu marido e eu, no caminho para casa ou para o trabalho, no sentido inverso da estrada, sempre observamos uma blitz que encosta carros, motos e ônibus. Sempre comentamos acerca dos perigos que vêm envolvendo a região de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
No último sábado, voltando de Niterói, sem meu esposo, tomei o ônibus para Itaipuaçu, no terminal. Como é de meu feitio, puxei papo com algumas pessoas na fila, averiguando se aquele carro passaria próximo à minha rua.
A viagem estava tranquila até sermos parados pela famosa blitz de Santa Bárbara. Subiram no ônibus três policiais. Um se dirigiu ao fundo do carro, outro permaneceu no meio e o terceiro à frente, bem de frente para mim. Tudo calmo, enquanto o policial do fundo conversava, fazia perguntas e revistava alguns passageiros. Como eu estivesse sentada na segunda fileira, somente ouvia os sussurros.
De repente, uma confusão se fez ouvir. O jovem para o qual eu havia perguntado sobre o destino do coletivo, se negava a ser revistado. Quando olhei para trás, ele estava de pé, com os braços cruzados, esbravejando que não era justo, que não entendia porque somente ele estava sendo revistado: “é porque eu sou negro? Eu sou trabalhador!”
A esta altura, os dois policias que se encontravam no fundo e no meio do carro, já estavam à frente e atrás do jovem. Todos discutindo se haveria ou não a revista pessoal. Então, o policial que estava à minha frente desceu do veículo e deu lugar a um militar mais maduro, mais velho. Ele entrou e se dirigiu até o recalcitrante, explicou novamente que ele deveria permitir que os policiais fizessem o seu trabalho. Explicou ao rapaz que outros três passageiros foram revistados também e que, por estarem atrás dele, o fato não pôde ser observado. Os policiais pediram o documento de identificação ao rapaz, mas ele não tinha. Eu não cheguei tão perto dele, mas os policiais diziam que ele se acalmasse, porque estava bêbado, com hálito etílico, e poderia fazer alguma besteira. Aquele oficial disse que se ele não aceitasse a revista, seria levado até a delegacia, a fim de se explicar para o delegado e diante da teimosia contumaz do homem de vinte e cinco anos, eles o escoltaram até a viatura policial. O policial que comandava a operação ordenou que o rapaz não fosse algemado, nem colocado na caçamba da viatura.
O policial que fazia a revista continuou o seu trabalho e o oficial permaneceu na parte da frente do veículo desabafando: que estiveram ali naquele mesmo local, até as vinte e três horas do dia anterior e tinham chegado ali de volta, às cinco da manhã; que a empresa não fornece segurança aos passageiros, a despeito de se pagar um seguro embutido na passagem; que ele poderia ser pai daquele rapaz, porque somente de polícia militar, já contava vinte e quatro anos; que gosta do seu trabalho, mas a atitude do rapaz causaria problemas naquele dia, eis que uma viatura teria que leva-lo até a delegacia, juntamente com dois policiais que testemunharam o ocorrido, desfalcando, assim, a barricada. Ao final, ele pediu desculpas a todos e agradeceu pela nossa paciência.
É importantíssimo frisar que, em momento algum, os policiais foram violentos, agressivos ou deseducados.
Dois pontos me tocaram nesse ocorrido. Um revela o quanto o povo vem sendo massacrado pelas políticas antirracismo, erroneamente aplicadas sobre cabeças imaturas, cansadas e sem esperança de um futuro melhor. Cabeças que acreditam que todo o seu infortúnio advém da sua raça, da sua cor, da sua religião, da sua situação social. Pessoas que foram ensinadas, subliminarmente, a terem preconceito contra si mesmas.
Outro revela o quanto a mídia é venenosa e tendenciosa, agindo de acordo com os interesses socioeconômicos do momento. Sim! Eu fiquei pasma com a educação dos policias! Porque estou acostumada a ver e ouvir sobre uma polícia corrupta e perversa.
Após o susto inicial comigo mesma, fui obrigada a raciocinar que, onde quer que haja seres humanos, haverá corrupção e perversidade. Nós não gostamos de falar! Mas há médicos perversos, advogados corruptos, professores perversos, pedreiros corruptos, eletricistas perversos, funcionários públicos corruptos... E é verdade! Há policiais perversos e corruptos! E eles são colocados em maior evidência porque o seu trabalho é influente e amplo. Mas também há policiais amáveis, éticos e que possuem senso de moral. Talvez aqueles profissionais com os quais me deparei nem sejam tão amáveis e éticos. Talvez não tenham pegado pesado com o rapaz porque se encontravam sob vários olhares de testemunhas. Mas talvez sejam somente pessoas de bem fazendo o seu trabalho, em prol da segurança pública.

Há pessoas de bem nesse mundo! Há pessoas de bem em todos os setores da vida. E não é o fato de você ser negro e pobre que dá direito às pessoas de inferiorizarem você. Por isso, não se inferiorize! Se você não deve nada, entregue a sua carteira de identidade ao policial e se deixe revistar. Abra a sua bolsa, tire tudo de dentro dela e deixe o segurança do banco olhar. Aguarde a sua vez! Porque quando bandidos armados invadiam os bancos, as pessoas clamavam por mais segurança. Quando bandidos armados entram nos coletivos, as pessoas clamam por mais segurança. E se algo de muito ruim acontecer com você, para qual número você vai ligar pedindo ajuda?