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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

NOITE EM CLARO (Beatriz Oliveira)


Os dois se deitam juntos. Dizem: “Boa noite.” “Boa noite.” Em três minutos, ele começa a roncar. Ela pede: “Vira de lado”. Ele vira, em ato-reflexo. Ela devolve a mão ao abdome.

Tivera um dia difícil: Levantou às seis e colocou o filho pequeno na van para a escola. Sacudiu a filha adolescente, a fim de que ela não perdesse o curso de inglês. Deu ordens à diarista. Beijou no rosto o marido e saiu.

Ralou o dia inteiro, subindo e descendo escadas, levando documentos e broncas, sempre com um sorriso no rosto. Tinha um belo sorriso. Foi cantada pelo porteiro e, pela milésima vez, se fez de desentendida. Foi cantada pela executiva que tinha uma sala em frente à sua. Fez-se de desentendida também.

Passou no supermercado. Comprou mamão, alface, detergente. O cartão não passou. Defeito na máquina. Correu no caixa eletrônico e tirou o dinheiro. Voltou e pagou a compra, sob os olhares acusadores dos outros. Não ligou. Sempre há olhares acusadores.

Tropeçou no tapete da entrada. Beijou o filho. Telefonou para saber onde a filha estava. Sala de aula. Sentou-se no sofá. O marido chegou. Ela deu banho no menino e o pôs na cama. Esquentou o jantar, mas só enrolou a alface no garfo. O marido tomou duas latas de cerveja sob o seu olhar acusador. Não devia olhar assim...

Tomou banho. Estendeu a toalha. Guardou a comida. Lavou a louça. Agora, estava deitada, cansada e sem sono. Virou pro lado e deu de cara com as costas do marido. Virou pro outro e deu de cara com o vazio. Fechou os olhos e pensou que talvez transar ajudasse a dormir. O marido roncava.

Ela tocou o próprio seio e o mamilo enrijeceu. Abriu as pernas e tocou o clitóris. Rijo também. Mas a mente estava vazia. Nenhuma fantasia. Nenhum desejo. Só a reação física ao toque. O silêncio ficou pesado. Secou os dedos molhados no lençol e ficou assim, olhando pro teto, até o dia amanhecer...

3 comentários:

Andreia Jacomelli disse...

Você já morou comigo?????

Beatriz Oliveira disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKK

Vicente Portella disse...

Oi Bia,

Belo texto. Leve, mas ao mesmo tempo forte. As pessoas precisam ler mais textos assim para aprender a reagir a robotização do dia a dia.

Beijos