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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

sábado, 21 de maio de 2011

A ÁRVORE DA SERRA (Augusto dos Anjos)

- As árvores, meu filho, não têm alma!

esta árvore me serve de empecilho…

É preciso cortá-la, pois, meu filho,

Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!

Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!

Deus pôs almas nos cedros… no junquilho…

Esta árvore, meu pai, possui minha alma!…

- Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:

“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”

E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,

O moço triste se abraçou com o tronco

E nunca mais se levantou da terra!


Assim como eu, muitos podem pensar que o belíssimo poema acima se refere a preocupação ambiental e sustentabilidade no planeta. Assim pensando eu, amei-o quando o li na exposição literária Palavra e Imagem, no Centro Cultural Rio de Janeiro dos Correios.

Procurando o texto para reler, em casa, descobri que, na realidade, o texto se refere a outra coisa...

O pai de Augusto dos Anjos teria engravidado uma sua empregada e tomou a decisão de obrigá-la a fazer um aborto. Quando Augusto soube da decisão do pai, escreveu o poema acima.

Amei-o ainda mais!!!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

HIDROCEFALIA (Beatriz Oliveira)


Tenho pensado acerca dos meus excessos, meus líquidos...

E acabei chegando à conclusão de que o meu corpo não tem absorvido bem as lágrimas que tenho me negado a derramar, por uma “força” que teimei construir com o que chamam de maturidade.

Sempre evito reclamar das minhas mazelas e estou ininterruptamente sorrindo, apesar dos problemas que a vida me apresenta, o que faz os outros pensarem que eu sou uma pessoa altamente positiva e feliz.

Não me considero infeliz, que isso fique bem claro! Mas sou uma pessoa comum, com momentos de alegria e dor. Entretanto, que não se dá o direito de estragar o dia das pessoas ao seu redor com mau humor.

Há pouco tempo, pois, encontrei-me numa situação tragicômica: só, em meu apartamento, na madrugada, deitada em minha cama, com uma baita solidão, uma puta vontade de chorar e... Segurando o choro.

Pasmada, percebi o quanto essa coisa de positivismo me deixou doente! Eu tenho, durante muito tempo, me tirado o direito de me sentir triste porque a gente deve se sentir alegre sempre, dizem.

Há tempos, tenho dificuldade de derramar lágrimas. Preciso lançar mão de filmes tristes para alcançar o meu intento, quando muito necessito.

Passei, então, a elucubrar acerca da minha turva visão.

Meu cérebro tem produzido mais líquido do que o normal e a minha medula já não suporta mais a quantidade, não tem para onde enviá-lo e ele tem ido para os meus olhos. A minha visão está cada vez mais comprometida, mais embaçada, e eu sinto, amiúde, como se enxergasse através de um vidro úmido.

Frequentemente, é necessário abrir e fechar os olhos repetidas vezes, como que para espalhar as gotículas, para que seja possível enxergar um pouquinho melhor, mas a melhora não dura mais que algumas frações de segundo.

Lembro-me que, aos onze anos, quando ganhei minha primeira bicicleta tive vontade de gritar de alegria, mas não gritei, só agradeci, com educação. A educação que meus pais me ensinaram. E que na semana passada, quando bati o dedo do pé na mesa do trabalho, tirando um pedacinho dele, tive vontade de xingar e chorar, mas não fiz isso. Coloquei a mão na boca, fiquei vermelha e disse, com calma, que bati o dedo, enquanto ele sangrava.

Essa coisa me acompanha desde há muito tempo! Não sei quanto...

Acho que preciso voltar a ser criança... Mas não sei que criança. Não lembro quando fui uma criança capaz de gritar e chorar minhas dores e penso que elas foram-se acumulando no meu cérebro em forma de emoções líquidas que agora não têm mais para onde escoar.

E agora? Onde encontrar a idade ideal? Onde encontrar as lágrimas que teimam em não brotar? Aquelas que uma vez escravizadas não aprendem a se libertar. Aquelas de quem Saramago diz: "... então, já não chorava, mas os seus olhos nunca mais voltarão a estar secos, que esse é o choro que não tem remédio, aquele lume contínuo que queima as lágrimas antes que elas possam surgir e rolar pelas faces."...

domingo, 15 de maio de 2011

TIRO DE MISERICÓRDIA (Beatriz Oliveira)

Tudo bem a vida ser tão cara!

Tudo bem o governo não cuidar da segurança,

Do idoso, da criança,

E encher, com o meu dinheiro, a cueca imunda!

Tudo bem o salário ser pequeno,

A idéia ser pequena, o dinheiro ser contado

E os problemas escondidos atrás de um falso sorriso.

Tudo bem o mundo querer me transformar

Em uma Gisele ou Ivete qualquer,

Massificando-me com utopias de ser supermulher!

Tudo bem doer o corpo, a cabeça, a alma,

Engolir o café amargo e o amargo choro,

Perder a esperança, a fé, a calma...

Tudo bem ficar meses sem te ver!

Pensando em se eu ocupo um lugar na sua memória,

Se a minha voz envolve os seus neurônios,

Se eu fiz, de fato, parte da sua história.

Tudo bem um beijo seco e um sorriso frio...

Mas uma promessa quebrada é imperdoável!

Fez-se, em mim, de fato, um vazio palpável,

Quando seu corpo se negou a tocar o meu,

Tão sutilmente, aviltantemente, arredio.

Como se eu fosse uma cadela no cio,

De quem a distância traria paz.

Eu não queria muito mais que um toque...

Bastar-me-ia um abraço terno, de concórdia.

Quebrar a promessa, tão covardemente,

Foi, em meu amor, um tiro de misericórdia.