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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

CONDE DE MONTECRISTO - Beatriz Oliveira






Eu havia ouvido falar nos morenos maduros, que tinham encanto, uma certa força. Eu sempre achei exagero e pensava que eles não deixavam para trás os de pele clara e odor suave. Achava ainda que a juventude e o frescor conferiam aos moços um encanto incomparável, impenetrável, invencível!

Até que fui apresentada ao Conde. Um senhor de muito respeito, que contava já com seus setenta e seis anos e, com altivez, do alto de toda a sua experiência, se auto intitulava o Senhor de Montecristo. De corpo delgado e elegante, porém substancioso, tinha também a pele mulata e um odor embriagante. De poucas palavras, esse senhor chegou trazido por um amigo, e se deixou apresentar sem defender-se, sem explicar a que veio.

Meu amigo me preveniu:

_ Ele é exigente! Você precisa dar-lhe total atenção, ritualisticamente.

_ Que frescura! – Eu pensei, sem ousar dizer, diante de tanta pompa e porque ele era realmente imponente. Fui levada à criatura, como o metal ao ímã, sem conhecer o propósito do encontro, tal o do ímã será sem nenhum, ou quase algum, qual seja estarem jungidos um ao outro, sem modo fácil de escapar, e eu, arrastando-me em sua direção, assim, tal qual o jugo dos ímãs-reis-do-poder.  Ao som distante das orientações do meu amigo, que se divertia com a minha descoberta, meu brinquedo novo e velho e o brinquedo em pleno funcionamento, eu fui transportada a um mundo sedutor, quase tântrico.

Dominada pela curiosidade e pela promessa de uma nova experiência,  obedeci cegamente ao desejo e comecei por retirar-lhe lentamente a túnica, uma veste plastificada e tênue que se desfez ao toque. Ato continuo, fui delicadamente rasgando-lhe a pele e retirando-lhe o selo. Ele, em total silêncio, expirava, exalava, exultava! Entregava-se a mim pela prima vez, assim como eu a ele pela vez primeva.

Às ordens, ainda, como hipnotizada, lambi-lhe o falo, deixando-o úmido e pronto. E o fogo se lhe acendeu! E enquanto as chamas o consumiam, eu me consumia de prazer, sugando-o, conhecendo-o, domando-o. A cada movimento, ele se tornava mais ardente e saboroso. Aos poucos, meus lábios foram-se tornando túrgidos e densos, dormentes, ardentes, assim como ele. Sua experiência ventilava um sabor acre e inesquecível que perduraria ainda pelo resto da noite, mesmo após a sua partida. Meu amigo se divertia com a minha desenvoltura e o meu prazer.
Sim! Houve um prazer tão intenso: de memórias, de odores, desejos... Um prazer de asas brancas alçando voo no infinito céu da imaginação. Segurando-o delicadamente entre os dedos, suguei do Senhor de Montecristo o quanto pude, mas o seu calor intenso por pouco não me queima a boca. Decidi, então, penalizada, abandoná-lo, reconhecendo que ele me vencera. E durante a minha triste observação do falo que eu já não podia mais tocar, qual não foi a minha surpresa ao ver o meu novo senhor sucumbindo à falta do poder dos meus lábios!

Então percebo que na teia primordial da minha vida se traçou um tênue aramado de dependência mútua:  se tu não vens, não lhe sinto o gosto, o cheiro, o calor  e o êxtase que te são característicos e que é de ti doar com tanto penhor. Entretanto, se eu também não vou, não me sentes a umidade, o torpor, o desejo, a vida! Se tu não vens, não ardo. Se eu não vou, não vives. Montecristo.

Montecristo, meu puro amor. Quantos versos de amor hei de escrever? Quantas folhas de dor hei de queimar? O que hei eu de esperar? Espero uma visita fecunda, Conde, um passeio a Vuelta Abajo, onde possamos cravar raízes e ser fiéis amantes. Porque a defloração primitiva há de fazer das minhas entranhas habitação sepulcral e nunca a tua lembrança será apartada de mim, eis que a tua presença é só luz, desejo e manifestação. Tudo isso eu penso, coração dolorido, enquanto vejo, aturdida, a tua chama se apagar...

_ Ainda dá?

_ Não, não dá mais. - Sorri o meu amigo. – Você vai se queimar.

Sim, tenho mania de brincar com fogo e sempre me queimo porque não me contento em ver a chama se apagar.

Montecristo, será tu a minha lição?

Um comentário:

Anônimo disse...

Maravilhoso. A prosa, extremamente poética, chega, envolve e abrasa o leitor. Uma narrativa ricamente descritiva e também uma metáfora habilmente trabalhada. Parabéns!