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Maricá - Itaipuaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Sou poetisa, cantora, compositora e amante das artes.

sábado, 8 de outubro de 2011

ALMA PIRATA (BEATRIZ OLIVEIRA)

Já chega a noite atribulada
Quando os desejos sombrios me povoam a alma
Feito piratas confiscando embarcações,
Navios empilhados de ouro, bauxita, armas brancas,
Armas negras, igualmente poderosas.
Piratas invadindo um Iate Real, ordeiro
E transformando-o numa embarcação nefasta!
Onde a primeira regra é seguir às ordens da capitã e
A segunda regra é que não há mais regra alguma,
Na busca incessante pelo hedonismo racional.
Hedonismo racional? Hão de perguntar!
Que piratas mais loucos! Hão de dizer!
E eu direi que o hedonismo sem a razão
É um cavalo potencial na raia sem seu jóquei.
O prazer é algo irrefreável sem o conhecimento.
Por isso os piratas lutam sempre, sempre...
Alguns pelo amor, alguns pelo entendimento.
Luta vil, mormente quando se pretendia dormir
E se é tomado pelo sombrio gosto do temor.
Um temor de delícias, que quem as teme?
Às vezes, eu, sim, as temo, que se começo
Já me perco, ensimesmada, e não sei como parar.
Um temor de análises, que todos temem
E só eu pareço não temê-las o bastante e arriscar
Meu papo flácido sob o aço frio e cortante,
Minha cabeça numa bandeja de prata,
Durante um jantar no navio, regado a lenços de voile.
Beleza, juventude, vida e sangue quente
Num corpo separado de sua preciosa cabeça.
Preciosa cabeça sem valor e serventia
Para essa vida onde nada tem controle, nem destino.
Assim. Assim, tornado homem decapitado,
Sem olhos, nariz e ouvidos voltados para fora,
Consigo me perceber melhor.
Posso ver minhas dores e não as dos outros;
As minhas preocupações; as dívidas da minha família,
E não as do resto do país.
Posso ver como tenho sido egoísta comigo mesmo,
Privando-me da companhia e do amor familiar,
Em prol do capital, intelectual, do status.
Como tenho sido tolo tendo porque todos têm;
Fazendo porque todos fazem;
Comendo porque todos comem;
Fumando porque todos fumam e
Dormindo só, pois todos vão embora em algum momento
E fico só eu, comigo, e com tudo o que eu fiz.
Há um momento em que a cabeça na bandeja pulula.
Mas eu não sou mais o seu lugar.
É hora de fatiar o suculento prato principal
E se acostumar com a lembrança de um levíssimo sabor.
Lábios hedonistas hão de saborear miolos truculentos
E lhes parecerão carne mal passada de polvo que não quis a morte,
Mas morreu assim mesmo, eis que nessa hora não se discute.
Hão de saborear o gosto de uma vida nova, agridoce,
Em que jogaram fora antigos conceitos arraigados
E se trouxeram novos em substituição.
Há que haver alguma mudança! Uma reação!
Uma ventania há de passar e enfunar as velas!
Eu hei de gritar aos quatro cantos da terra:
VENTO! - VENTO! -VENTO! - VENTO!
Vêm ao meu auxilio Cronos e Eólo,
Afastando todo o julgamento e o passado.
Nesta manhã desconcertada, despertarei sincera
Limpa, cheia de mim mesma, de tempo e de vida.
Porque se vencer demanda imprecisão,
Ética, mas acima de tudo, coragem de olhar para si.
Eu me olhei e me vi sem cabeça.
Ouso dizer que sou mais bela assim.
Mula sem cabeça de crina longa e loura,
Prontinha pra ser feliz como Deus quiser.
E a cabeça da bandeja?
Ah, essa vai balançando doida ao som do meu tchi ki bum bum.

domingo, 2 de outubro de 2011

A NATUREZA (Beatriz Oliveira)

 
 

Quando as pessoas dizem que a natureza é perfeita, eu concordo, porque se eu discordasse teria que provar a minha teoria e isso seria complicado. Bem, é mais fácil perceber a perfeição natural do que a imperfeição antinatural, porque o normal é ser perfeito e quem não crê na perfeição não é normal, porque a normalidade faz parte de um meticuloso processo ético realizado por pessoas antiéticas, que são loucas, mas juram que são normais e, como os loucos têm um poder de contundência esplendoroso, a gente acaba acreditando que eles são normais e que louco é a gente. Você entendeu? Se entendeu me explica, porque eu fiquei meio perdida! Deixando isso de lado e valorizando a perfeição da natureza… Se você acordar de manhã, fizer xixi, tomar café, escovar os dentes e for trabalhar, as pessoas vão achar que você é normal, sem saberem o que você realmente fez à noite… Por outro lado, se você não escovar os dentes, não fale perto de mim, pois eu vou achar que você é um porco! Se você vai trabalhar, volta à noite, cansado, toma banho, janta e vai dormir, sem dar nem um beijinho na sua mulher, eu vou achar que ela deve trocar de marido, porque você não “tá com nada”. Por outro lado, se você vai trabalhar, volta à noite tinindo, toma banho, janta e vai agarrar a sua mulher, eu vou achar que ela deve correr de você, porque, depois de um dia de trabalho só um tarado teria tanta disposição (a não ser que ela seja ninfomaníaca). Se você faz certas coisas mecanicamente, não vai perceber o que dizem as entrelinhas da vida. Por exemplo, se você é médico e sai pra trabalhar e tropeça numa pedra que há na porta da sua garagem e cai de bunda naquela poça de lama que VOCÊ fez ontem, quando lavou o carro, olha quanta coisa VOCÊ fez de errado: primeiro, você é médico. Se você fosse advogado, talvez desse pra você trabalhar com a bunda suja, porque o cinza do terno disfarçaria a cor da lama; segundo, você lavou o seu carro na SUA garagem. Se você tivesse aproveitado quando o vizinho saiu para fazer compras e tivesse lavado o carro na garagem dele, a poça estaria lá e não aqui; terceiro, você não levou adiante aquele cursinho de MIND POWER que a Dona Zuleica ministrava no interior da sua cidade natal, há vinte anos atrás. Se você tivesse terminado, hoje já seria adivinho e desviaria da pedra antes do acidente. Veja só, outro exemplo, você vive reclamando que não agüenta mais trabalhar e que a praga da sua mulher não te deixa descansar no fim de semana. Aí, quando chove, você quer brigar com São Pedro. Vê se pode? Só porque não vai poder ir ao futebol com aquele bermudão de tactel que a sua secretária te deu no seu aniversário?! Mas, por outro lado, você não percebeu que o quintal já tá lavadinho e você só vai ter que lavar a louça depois do almoço. Mas se você for um pouco esperto, vai usar aquela BOSCH que a sua sogra te deu no natal e vai fazer uma goteira bem em cima da pia da cozinha. Sabe, acho que é verdade quando dizem que a natureza é perfeita! 
A gente é que não sabe viver…!