
Há, em mim, vários demônios.
Um ama a mentira e,
Freqüentemente, avilta minha inteligência,
Com seus desejos fugazes.
Outro ama a loucura e,
Às vezes, me assalta, inesperadamente e,
Ao ver-me, já me encontro na camisa.
O outro ama a liberdade!
Esse, de vez em quando, me ajuda,
Rasgando minhas vestes.
Outro ama a minha nudez e,
Mesmo sem jeito, ao custo de cravadas,
Tenho que despir-me pra ele.
Esse é muito mau!
Não respeita o tempo, nem conhece limites e,
Quando me visto,
Ele me rasga o peito.
Há, em mim, outro demônio
Que ama a dor e,
Quando tudo vai bem, me espeta.
Então, eu sei que devo
Providenciar-me algum mal.
Há, porém, em mim,
O pior de todos os demônios:
O que ama a emoção.
Seja qual for, ele ama.
Quando minto ou me dispo,
Quando minha mente se perde,
Quando busco a folha da parreira,
Quando invento casos, acasos,
Atrasos, descasos,
É sempre quando ele me ama.
Meus demônios vivem brigando!
E os chamo “meus” porque de mim brotam.
Sou sua mãe, seu algoz, seu deus,
Sou a mão que os acaricia ou tortura.
Quando estão tristes, os acalento.
São meus filhos,
Crianças com brinquedo novo.
Não posso matá-los!
Devo dominá-los e amá-los, pois são meus.
Não ouso o exorcismo!
Há, em mim, apenas o que sou.
Se matá-los, morrerei!
Se eu morrer virão fantasmas...
Eu prefiro meus demônios aos seus fantasmas!
Demônios são anjos. Crescerão.
Fantasmas não são nada
E o nada é meu oposto.
Em mim, sou tudo de mim.
Eu amo meus demônios
E odeio os fantasmas...!
Um comentário:
Que mergulho profundo, heim, Bia?! Parabéns por essa capacidade, querida. Belo texto! Bjs.
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