Espanta-me o temperamento
belicoso de algumas pessoas! Há coisas tão importantes nesse país pelas quais
se deve lutar e as pessoas terminam por desperdiçar a sua energia com lutas
vãs.
Sabe aquela velha história
do sensor de metais na porta das agências bancárias? Pois bem. Volta e meia,
presencio pessoas discutindo com os seguranças da agência porque são obrigadas
a colocar moedas, chaves, celulares e outros objetos metálicos no
porta-objetos. As pessoas levam tão a sério a questão do dano extra patrimonial
que não conseguem avaliar o que representa, de fato, um dano e o que é, apenas,
um mero aborrecimento, um contratempo.
Todos sabemos, através da
mídia, que os coletivos da Viação Amparo têm sido alvo de inúmeros assaltos,
infelizmente. Meu marido e eu, no caminho para casa ou para o trabalho, no
sentido inverso da estrada, sempre observamos uma blitz que encosta carros,
motos e ônibus. Sempre comentamos acerca dos perigos que vêm envolvendo a
região de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
No último sábado, voltando
de Niterói, sem meu esposo, tomei o ônibus para Itaipuaçu, no terminal. Como é
de meu feitio, puxei papo com algumas pessoas na fila, averiguando se aquele
carro passaria próximo à minha rua.
A viagem estava tranquila
até sermos parados pela famosa blitz de Santa Bárbara. Subiram no ônibus três
policiais. Um se dirigiu ao fundo do carro, outro permaneceu no meio e o
terceiro à frente, bem de frente para mim. Tudo calmo, enquanto o policial do
fundo conversava, fazia perguntas e revistava alguns passageiros. Como eu
estivesse sentada na segunda fileira, somente ouvia os sussurros.
De repente, uma confusão se
fez ouvir. O jovem para o qual eu havia perguntado sobre o destino do coletivo,
se negava a ser revistado. Quando olhei para trás, ele estava de pé, com os
braços cruzados, esbravejando que não era justo, que não entendia porque
somente ele estava sendo revistado: “é porque eu sou negro? Eu sou trabalhador!”
A esta altura, os dois
policias que se encontravam no fundo e no meio do carro, já estavam à frente e
atrás do jovem. Todos discutindo se haveria ou não a revista pessoal. Então, o
policial que estava à minha frente desceu do veículo e deu lugar a um militar
mais maduro, mais velho. Ele entrou e se dirigiu até o recalcitrante, explicou
novamente que ele deveria permitir que os policiais fizessem o seu trabalho.
Explicou ao rapaz que outros três passageiros foram revistados também e que,
por estarem atrás dele, o fato não pôde ser observado. Os policiais pediram o
documento de identificação ao rapaz, mas ele não tinha. Eu não cheguei tão
perto dele, mas os policiais diziam que ele se acalmasse, porque estava bêbado,
com hálito etílico, e poderia fazer alguma besteira. Aquele oficial disse que
se ele não aceitasse a revista, seria levado até a delegacia, a fim de se
explicar para o delegado e diante da teimosia contumaz do homem de vinte e
cinco anos, eles o escoltaram até a viatura policial. O policial que comandava
a operação ordenou que o rapaz não fosse algemado, nem colocado na caçamba da
viatura.
O policial que fazia a
revista continuou o seu trabalho e o oficial permaneceu na parte da frente do
veículo desabafando: que estiveram ali naquele mesmo local, até as vinte e três
horas do dia anterior e tinham chegado ali de volta, às cinco da manhã; que a
empresa não fornece segurança aos passageiros, a despeito de se pagar um seguro
embutido na passagem; que ele poderia ser pai daquele rapaz, porque somente de
polícia militar, já contava vinte e quatro anos; que gosta do seu trabalho, mas
a atitude do rapaz causaria problemas naquele dia, eis que uma viatura teria
que leva-lo até a delegacia, juntamente com dois policiais que testemunharam o
ocorrido, desfalcando, assim, a barricada. Ao final, ele pediu desculpas a
todos e agradeceu pela nossa paciência.
É importantíssimo frisar
que, em momento algum, os policiais foram violentos, agressivos ou deseducados.
Dois pontos me tocaram nesse
ocorrido. Um revela o quanto o povo vem sendo massacrado pelas políticas antirracismo,
erroneamente aplicadas sobre cabeças imaturas, cansadas e sem esperança de um
futuro melhor. Cabeças que acreditam que todo o seu infortúnio advém da sua
raça, da sua cor, da sua religião, da sua situação social. Pessoas que foram
ensinadas, subliminarmente, a terem preconceito contra si mesmas.
Outro revela o quanto a
mídia é venenosa e tendenciosa, agindo de acordo com os interesses socioeconômicos
do momento. Sim! Eu fiquei pasma com a educação dos policias! Porque estou
acostumada a ver e ouvir sobre uma polícia corrupta e perversa.
Após o susto inicial comigo
mesma, fui obrigada a raciocinar que, onde quer que haja seres humanos, haverá
corrupção e perversidade. Nós não gostamos de falar! Mas há médicos perversos,
advogados corruptos, professores perversos, pedreiros corruptos, eletricistas
perversos, funcionários públicos corruptos... E é verdade! Há policiais
perversos e corruptos! E eles são colocados em maior evidência porque o seu
trabalho é influente e amplo. Mas também há policiais amáveis, éticos e que
possuem senso de moral. Talvez aqueles profissionais com os quais me deparei
nem sejam tão amáveis e éticos. Talvez não tenham pegado pesado com o rapaz
porque se encontravam sob vários olhares de testemunhas. Mas talvez sejam
somente pessoas de bem fazendo o seu trabalho, em prol da segurança pública.
Há pessoas de bem nesse
mundo! Há pessoas de bem em todos os setores da vida. E não é o fato de você
ser negro e pobre que dá direito às pessoas de inferiorizarem você. Por isso,
não se inferiorize! Se você não deve nada, entregue a sua carteira de
identidade ao policial e se deixe revistar. Abra a sua bolsa, tire tudo de
dentro dela e deixe o segurança do banco olhar. Aguarde a sua vez! Porque
quando bandidos armados invadiam os bancos, as pessoas clamavam por mais
segurança. Quando bandidos armados entram nos coletivos, as pessoas clamam por
mais segurança. E se algo de muito ruim acontecer com você, para qual número
você vai ligar pedindo ajuda?
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