Tenho visto, ouvido e lido,
ultimamente, várias notícias acerca das violências praticadas por e em desfavor
do ser humano. Confesso que sempre me tocou grande preocupação com o bem estar
da humanidade, mas percebo que, a cada dia, a humanidade se faz mais enferma.
Os últimos acontecimentos
deixaram-me perplexa pela própria natureza das violências.
Venho acompanhando pelo
noticiário a prática de assaltos seguidos de lesões à faca, praticados por
adolescentes pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Não me espantei com a
morte do médico Jaime Gold, embora penalizada e solidária à família, pois já
pensava que, em algum momento, algo parecido aconteceria. O que, de fato, me
espanta é a inércia do governo e da população frente a episódios como esse. Os
fatos bem se parecem com as contumazes enchentes e deslizamentos que ocorrem
anualmente na Região Serrana do Rio, que governo e população ignoram e não
prezam por evitar.
Ouço candidatos, governantes
e população falando sobre pena de morte, redução da maioridade penal, cotas
inter-raciais... E penso em como estão confusas as cabeças brasileiras!
Medidas paliativas e
agressivas não resolverão os problemas do Brasil! Como as pessoas rapidamente
se esquecem do passado e se inflamam pelos resultados imediatos, sem planejarem
o futuro, os sistemas governistas montam as suas táticas de controle e dominam
as nossas vidas, com estratégias de longo prazo.
As cotas para negros e
pobres são uma ótima saída para as pessoas que já passaram por um sistema de
educação falido e não possuem oportunidades atualmente, contudo, em paralelo,
deve-se investir verdadeiramente na educação de base, a fim de que todos:
brancos, negros, pobres e ricos possam competir pelas vagas em igual condição.
Mas isso não está sendo feito!
A pena de morte, medida
igualmente paliativa, somente serviria para reduzir a população carcerária,
pois na verdade, os países que a praticam também possuem criminosos e os crimes
continuam ocorrendo. Além disso, sabemos que a maioria esmagadora dos detentos
é negra e pobre e, como o homem é falho, muitos estão lá injustamente; vemos,
vez por outra, na TV as ocorrências de erros que imputam penas longas a pessoas
inocentes. Imaginem essas pessoas inocentes morrendo injustamente, se aqui
houvesse pena de morte!
A moda agora é a redução da
maioridade penal! O que será que pretende o sistema governista ao permitir tal
proposta? Não penso, jamais, em impunidade para adultos ou adolescentes! Mas
penso que a questão está muito além de simplesmente colocar jovens abandonados
pela vida atrás das grades.
Fiquei assombrada com duas
notícias veiculadas há pouco. A jovem Andressa, de vinte anos de idade, chama a
filha, com apenas seis meses de nascida, de “desgraça”, a tortura e sufoca com
uma fralda e, além de tudo, filma o que faz! Com certeza, há pessoas desejando
a morte de Andressa. As ações dela são repugnantes! Mas eu gostaria que todas
as “Andressas” do Brasil fossem conhecidas e quantificadas. Realmente, há
pessoas más no mundo, mas o número de pessoas más vem aumentando
consideravelmente!
A outra notícia que me
chocou foi sobre a morte incomum de Christopher Marquez, um mexicano de seis
anos de idade. Duas meninas e três meninos, primos e irmãos de Christopher,
resolveram brincar do que chamaram de “jogo do sequestro” e o menino era o
sequestrado. Amarraram-lhe os braços e pernas e depois passaram a bater na
criança com pedaços de madeira e pedras. Em seguida, um de seus irmãos o
sufocou e o menino ainda foi esfaqueado para que não houvesse chances de
sobrevivência. Enterraram-no em um terreno baldio, juntamente com a carcaça de
um bezerro para “disfarçar o cheiro”. Sim! Foram crianças de doze a quinze anos
que fizeram isso! Pena de morte a elas! Redução da maioridade penal para onze
anos!
Fico assustada com uma
maldade, mas fico estarrecida quando há muitas pessoas envolvidas nessa
maldade! Será que as pessoas não percebem que a humanidade está doente? Um
jovem homicida, sádico, praticar tortura contra outro ser humano é medonho, mas
compreensível, pela própria natureza humana. Mas cinco adolescentes vizinhos e
parentes da vítima, se juntarem com esse único propósito? Nenhum deles
desistiu, achou que era demais? Nenhum deles teve medo, remorso?
Infelizmente, penso que as pessoas vêm se transformando
em sociopatas! Atitudes impulsivas e incontroláveis, frieza, insensibilidade
com relação às outras pessoas, ausência de valores morais, desobediência
persistente, crueldade com animais, destruição de propriedade, comportamento
desafiador, agressividade, desrespeito às normas e regras, mentiras, mudanças
súbitas de temperamento, furtos, fugas de casa... Reconhecem os sintomas da
sociopatia em nossas crianças e jovens adultos?
O mundo globalizado ensina
consumismo, arrogância, disputa e egoísmo. Os pais dessa geração foram crianças
maltratadas pelo todo. Os adultos que praticam violências hoje, sofreram-nas,
quando pequenos. Como maltratadas não digo somente as crianças pobres! Falo dos
filhos de pais separados, cujas mães precisam trabalhar o dia inteiro e delegar
a educação de seus filhos a terceiros; dos filhos cujos pais trabalham em
grandes empresas, viajam e não têm tempo de perguntar se aquele muxoxo é devido
a alguma tristeza ou insatisfação; dos filhos de pais que querem, a todo custo,
a sua entrada no mercado de trabalho, mesmo que não seja esse o caminho desejado
pelos filhos. Falo de crianças que precisam de um lar, não simplesmente uma
casa, de conhecer a ética, a moral e o respeito ao próximo, a solidariedade.
Sendo criados assim, sem parâmetros, que tipo de crianças esses pais poderiam
educar? E nós? Podemos exigir de alguém aquilo que ele não possui, que ele
desconhece?
O nosso trabalho deve ser
feito paulatinamente, com profundeza e seriedade se quisermos, de fato, minorar
os efeitos dessa violência. Mas os resultados são de longo prazo...
Não podemos mais fingir que
nada está acontecendo e cuidarmos cada um de si. As proporções da violência e
da deseducação foram longe demais!
Basta de placebos e
paliativos! Vamos dar mais atenção às nossas crianças, desligar a TV e o
computador e ir ao teatro, ao museu; vamos ensinar (e cobrar!) atitudes
responsáveis e de fundo ético delas, desde pequenas; vamos exigir que as
pessoas respeitem as nossas crianças e ensinemos o respeito também a elas;
exijamos educação e saúde de qualidade, não só para os nossos filhos, mas os
filhos de todos os brasileiros; obriguemos os detentos a trabalharem para terem
direito a comida, vestimenta e abrigo, tal qual fazem os cidadãos de bem; que o
governo ofereça cursos profissionalizantes para os presos que serão obrigados a
cursa-los, bem como tratamentos de saúde, inclusive psiquiátrico, de qualidade;
exijamos que os corruptos, políticos ou não, cumpram suas penas na cadeia, não
em domicílio que, não raro, se estendem a Cancún; analisemos a possibilidade da
prisão perpétua para os crimes hediondos e de não se colocar na rua traficantes
e larápios em regime semiaberto, por falta de lugar nas penitenciárias; digamos
“não” aos indultos...
Eu sei que isso tudo é uma
utopia! Mas nós não podemos mais ignorar o fato de que a doença da maldade atingiu,
em cheio, esse país, que foi uma doença planejada a fim de imobilizar o povo e
já se tornou endêmica. E como toda doença ela precisa de tratamento, não de
extirpação!
Nenhum comentário:
Postar um comentário