Muito
se tem falado, atualmente, na questão da necessidade da educação alimentar de
crianças e adultos, diante dos alarmantes números de obesidade e doenças
coronarianas e ligadas ao aparelho circulatório de uma forma geral, bem como do
grande aumento do aparecimento da diabetes, hipertensão arterial e depressão em
adultos e crianças.
Temo
que este seja um problema moderno para o qual não haja solução. Mais de dez por
cento da população mundial se encontra em sobrepeso e o índice fica ainda maior
em termos de países capitalistas.
É
uma grande antítese ver e ouvir todas as propagandas e palestras a favor da boa
alimentacao natural, os conselhos de médicos cardiologistas, endocrinologistas
e nutricionistas, quase sempre também acima do peso tido como ideal, em
contrapartida a todo o “apelo fast-food” do mundo moderno. E, por fast-food, não me refiro somente às grandes redes de
lanches rápidos e aos refrigerantes, mas também aos frangos, entupidos de hormônios
para crescerem mais rápido, a fim de atenderem à demanda do mercado, aos temperos
prontos, saturados de gorduras, condimentos e sódio, aos alimentos ensacados,
previamente debulhados e lavados e sucos de frutas, repletos de conservantes e
aromatizantes artificiais, e às bebidas lácteas que, outrora foram leite, hoje
não sabemos o que são, dentre outras coisas. Tudo com o objetivo de agilizar/facilitar
o dia-a-dia das donas de casa que, hoje, são também mulheres de negócios. Mas
não só para isso, como também para dar vazão a toda a inventividade da
indústria moderna e, consequentemente, do comércio.
Temos,
então, incutida na população a necessidade do consumo exagerado de vários tipos
de coisas relacionadas às datas festivas, ou não. Em ordem cronológica, começamos
com o ano novo, com bacalhau, vinhos, frutas secas, sementes e castanhas
importadas e nada atinentes ao clima tropical, mas deveras interessante para o
comércio nacional e internacional; carnaval, regado a bastante cerveja; dia das
mães, com passeios maravilhosos, cinemas, teatros, muitos presentes e lautas
refeições, de preferência, nos shoppings, devido à insegurança nas ruas; páscoa,
com muitos ovos de chocolate de várias marcas, com inúmeras bobagenzinhas por
dentro para justificar a pouquíssima miligramagem e os preços altíssimos; festa
junina, com muitos bolos de vários sabores, salgadinhos fritos e assados,
caldos, bebidas alcoólicas e roupas extravagantes; dia dos namorados, mais
presentes, chocolates, doces e jantares românticos; dia dos pais, quase o mesmo
do dia das mães, presentes e almoços; dia de São Cosme e Damião, vamos dar doce
a todas as crianças da rua; dia das crianças/Nossa Senhora Aparecida, mais
doces, brinquedos, roupas, chocolates, almoços, eletrônicos; halloween, com
muitas fantasias e doces ou travessuras, importado dos EUA; e finalmente o Natal,
quando tudo volta a ser como o ano novo, como num círculo vicioso.
Diante
dessa realidade, o que vemos é uma pequeníssima parte da população tendo acesso
a produtos saudáveis e caríssimos, porque se encontram fora do sistema viável
de mercado, bem como a exercícios em academias orientadas e a maioria
esmagadora da população seguindo às cegas uma dieta de péssima qualidade,
imposta pela mídia e pelo livre mercado, sem condições de se exercitar a
contento, por falta de tempo e dinheiro, e se culpando depois diante da cobrança
dessa mesma mídia e da sociedade pelo seu corpo imperfeito.
Meninas
de doze anos com anorexia e bulimia, meninos de quinze anos com depressão por
serem obesos, mulheres com auto-imagem distorcida, homens com problemas de
supervalorização da imagem de si mesmos e da mulher, uma sociedade equivocada
quanto à realidade da imagem humana, inversão de valores éticos e morais, gastroplastias
desnecessárias feitas por pessoas desesperadas com médicos inescrupulosos que somente visam o
lucro, outras necessárias, mas sem o devido acompanhamento psicológico, preconceitos
demais...
É
preciso repetir quantas vezes for necessário que ninguém acorda num dia e diz: “Quero
ser gordo demais a ponto de as pessoas terem nojo de mim e rirem quando eu
passar na rua. Quero ser gordo a ponto de não encontrar uma roupa sequer que me
caiba nas lojas dos shoppings, sendo necessário mandar fabricá-las e também aos
meus sapatos. Quero ser gordo a ponto de não conseguir passar na roleta do
ônibus e precisar comprar dois assentos do avião quando for viajar, por isso
vou comer tudo o que encontrar pela frente, sem distinção, até ficar com
duzentos quilos e ser bem feliz.”
Quem
pensa que um obeso raciocina desta forma precisa pesquisar mais sobre a
obesidade! As razões sociais, econômicas e humanísticas que levaram a população
mundial aos números que temos, atualmente, em relação à obesidade são as mais
variadas e quem desejar pode encontrar informações preciosas em sites sérios,
conforme os links que disponibilizo logo abaixo do texto, ou pesquisar outros.
O
que não podemos permitir é que as pessoas continuem a tratar a obesidade como
uma questão de escolha, como “falta de vergonha”, como se fosse simplesmente “fechar
a boca”. Penso que determinadas pessoas, sim, precisam fechar a boca a fim de
evitar falarem assombrosas e chocantes frases em relação a outras pessoas.
Coisas do tipo “gordo fazendo gordices” e “não combina com uma liderança”
espiritual um “pastor barrigudo”. É doloroso chegar a esta conclusão, mas o
preconceito contra o obeso chegou na igreja.
Uma
famosa compositora, cantora gospel, escritora e, pasmem, líder espiritual afirmou,
em vídeo postado no youtube, cujo link segue abaixo, que não compreende como,
afora uma enfermidade, há pessoas que se permitem o sobrepeso. Como se fosse
esta uma questão de simplesmente permitir. Ela afirma, ainda, que se choca ao
ver algumas irmãs da igreja mais “cheinhas” e sente necessidade de convidá-las
ao jejum e à oração e que não aprova a liderança espiritual de pastores “gordos
e barrigudos”.
Eu
tento avaliar se há desconhecimento por parte dessa mulher para com a realidade
mundial referente aos problemas da alimentação, da obesidade e da manipulação
midiática ou se ela, simplesmente, é mais uma pessoa preconceituosa que se
dipôs a culpar o indivíduo, para sua auto-promoção ou, ainda, se ela é, talvez,
mais um instrumento do sistema, visando a culpabilidade, a distorção das
ideias, a desagregação, sim! Posso ouvir, ecoando em meus ouvidos, a sua frase:
“Tá sobrando banquete, almoço de comunhão. Tá faltando retiro de jejum e
oração.”
Eu
reconheço o valor inestimável da oração! Entretanto, nessa época atual de I-Phones,
I-Pods, Tablets, Netbooks, Facebook, Tumblr, Twitter e de tanta violência no
mundo lá fora, precisamos reconhecer que as pessoas se fecharam. As crianças
não brincam mais nas ruas e os nossos passeios estão restritos aos shoppings
que são, supostamente, mais seguros.
Com
toda a sinceridade do mundo, eu penso serem muito mais necessários, agora, almoços
de comunhão. E de preferência com pessoas de mente livre e aberta para amarem
sem preconceitos, como Jesus nos ensinou. Aliás, cumprindo o único mandamento
que Ele nos deixou: “Amarás ao Senhor teu Deus
de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de
todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10:27)
Jejum
e oração se faz em casa, sem ninguém saber. E de preferência longe de pessoas
que pratiquem o falso testemunho, que é o oitavo mandamento, porque a ninguém é
dado ver o coração do homem senão a Deus. E se é o coração a parte que Deus
quer ver, de que importa a estética do tamanho da barriga do mundo?
“E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois
se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem
vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mateus
6:5)
Isso
não quer dizer que nos esqueceremos da ética, da política, dos fatos, da luta,
pois somos cidadãos do mundo, além de cidadãos de Deus.
E
tenho dito!
Um comentário:
Muito bem dito e constatado.
E ainda existem, como eu, as pessoas que têm sobrepeso simplesmente porque passaram dos quarenta, ou estão na menopausa! A Natureza também nos modifica, e sem nenhuma notificação prévia - pior: lenta e gradativamente para que não possamos reagir!
Ao fim de tudo, resta-nos, creio, pensar em nossa saúde e é só.
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