Eu havia ouvido falar nos morenos maduros, que tinham
encanto, uma certa força. Eu sempre achei exagero e pensava que eles não
deixavam para trás os de pele clara e odor suave. Achava ainda que a juventude
e o frescor conferiam aos moços um encanto incomparável, impenetrável, invencível!
Até que fui apresentada ao
Conde. Um senhor de muito respeito, que contava já com seus setenta e seis anos
e, com altivez, do alto de toda a sua experiência, se auto intitulava o Senhor
de Montecristo. De corpo delgado e elegante, porém substancioso, tinha também a
pele mulata e um odor embriagante. De poucas palavras, esse senhor chegou
trazido por um amigo, e se deixou apresentar sem defender-se, sem explicar a
que veio.
Meu amigo me preveniu:
_ Ele é exigente! Você
precisa dar-lhe total atenção, ritualisticamente.
_ Que frescura! – Eu pensei,
sem ousar dizer, diante de tanta pompa e porque ele era realmente imponente.
Fui levada à criatura, como o metal ao ímã, sem conhecer o propósito do
encontro, tal o do ímã será sem nenhum, ou quase algum, qual seja estarem
jungidos um ao outro, sem modo fácil de escapar, e eu, arrastando-me em sua
direção, assim, tal qual o jugo dos ímãs-reis-do-poder. Ao som distante das orientações do meu amigo,
que se divertia com a minha descoberta, meu brinquedo novo e velho e o
brinquedo em pleno funcionamento, eu fui transportada a um mundo sedutor, quase
tântrico.
Dominada pela curiosidade e
pela promessa de uma nova experiência,
obedeci cegamente ao desejo e comecei por retirar-lhe lentamente a
túnica, uma veste plastificada e tênue que se desfez ao toque. Ato continuo,
fui delicadamente rasgando-lhe a pele e retirando-lhe o selo. Ele, em total
silêncio, expirava, exalava, exultava! Entregava-se a mim pela prima vez, assim
como eu a ele pela vez primeva.
Às ordens, ainda, como
hipnotizada, lambi-lhe o falo, deixando-o úmido e pronto. E o fogo se lhe
acendeu! E enquanto as chamas o consumiam, eu me consumia de prazer, sugando-o,
conhecendo-o, domando-o. A cada movimento, ele se tornava mais ardente e
saboroso. Aos poucos, meus lábios foram-se tornando túrgidos e densos,
dormentes, ardentes, assim como ele. Sua experiência ventilava um sabor acre e
inesquecível que perduraria ainda pelo resto da noite, mesmo após a sua
partida. Meu amigo se divertia com a minha desenvoltura e o meu prazer.
Sim! Houve um prazer tão
intenso: de memórias, de odores, desejos... Um prazer de asas brancas alçando
voo no infinito céu da imaginação. Segurando-o delicadamente entre os dedos,
suguei do Senhor de Montecristo o quanto pude, mas o seu calor intenso por
pouco não me queima a boca. Decidi, então, penalizada, abandoná-lo,
reconhecendo que ele me vencera. E durante a minha triste observação do falo
que eu já não podia mais tocar, qual não foi a minha surpresa ao ver o meu novo
senhor sucumbindo à falta do poder dos meus lábios!
Então percebo que na teia
primordial da minha vida se traçou um tênue aramado de dependência mútua: se tu não vens, não lhe sinto o gosto, o cheiro,
o calor e o êxtase que te são
característicos e que é de ti doar com tanto penhor. Entretanto, se eu também
não vou, não me sentes a umidade, o torpor, o desejo, a vida! Se tu não vens,
não ardo. Se eu não vou, não vives. Montecristo.
Montecristo, meu puro amor.
Quantos versos de amor hei de escrever? Quantas folhas de dor hei de queimar? O
que hei eu de esperar? Espero uma visita fecunda, Conde, um passeio a Vuelta
Abajo, onde possamos cravar raízes e ser fiéis amantes. Porque a defloração
primitiva há de fazer das minhas entranhas habitação sepulcral e nunca a tua
lembrança será apartada de mim, eis que a tua presença é só luz, desejo e
manifestação. Tudo isso eu penso, coração dolorido, enquanto vejo, aturdida, a
tua chama se apagar...
_ Ainda dá?
_ Não, não dá mais. - Sorri
o meu amigo. – Você vai se queimar.
Sim, tenho mania de brincar
com fogo e sempre me queimo porque não me contento em ver a chama se apagar.
Montecristo, será tu a minha
lição?
Um comentário:
Maravilhoso. A prosa, extremamente poética, chega, envolve e abrasa o leitor. Uma narrativa ricamente descritiva e também uma metáfora habilmente trabalhada. Parabéns!
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