Todos os dias eu vejo nos jornais, na TV, nas
redes sociais, pessoas falando de Deus e outras pessoas falando da Sua não
existência.
A maioria dos crentes, e aqui uso a palavra
com letra minúscula, eis que desejo me referir a todos aqueles que acreditam em
Deus, Jesus Cristo, Nossa Senhora e seres afins, não somente aos que se
apoderaram do termo como se nós outros não fôssemos Crentes somente por não
frequentarmos o mesmo seguimento religioso. Assim, a maioria dos crentes segue
à risca o “Ide” de Jesus, disposto em Mateus, Capítulo 16, Versículo 15: E disse-lhes:
Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. (João Ferreira de Almeida - Ipsis litteris). Possuindo uma absurda necessidade de empurrar
goela abaixo as suas crenças pessoais a pessoas que não estão interessadas
nelas, como se a “salvação” não fosse individual, eles terminam por meter os
pés pelas mãos e arruinar o que gostariam de soerguer.
Penso que crer em Deus seja uma questão de
senti-lo. Eu não preciso ler um livro ou ouvir a palavra de homens para saber
que Deus existe. Eu vejo a existência dEle nas flores, nas águas, no poder do
vento, no tremor das terras; eu o sinto na paz que me invade diante de um belo
por-do-sol ou do sorriso singelo de um bebê, ou simplesmente no silêncio da
segurança do meu quarto. Amar Deus é senti-lo com todo o seu corpo e toda a sua
alma, independentemente de livros e templos.
Ainda há uma questão muito controversa que
não me caberá aqui por muito expor, que é a manipulação paulatina do livro
sagrado pelas mãos humanas, de acordo com interesses pessoais, sociais e
econômicos. É óbvio que fazer mais cristãos sempre interessou ao sistema e,
apesar de Crente por fé, não sou cega para ver que o “Ide” possa ter havido,
sim, por lábios de Cristo, mas que possa ter sido alavancado de forma maligna
pelas mãos do sistema, que alavanca coisas malignas até hoje, pelo próprio bem,
a despeito da ruína do povo. O que separa não une. Quanto mais desafetos
melhor!
Por outro lado, vejo os ateus, que não
possuem livro sagrado em que se escorar, sustentando a mesma necessidade
absurda de produzir não-crentes, baseando-se em teorias científicas ou não.
Penso que, por amor ao debate, se fazem necessárias
tais considerações. Entretanto, aonde nos levarão? Se um crê letra por letra,
eu creio simplesmente por crer e outro em nada crê, que diferença isso faz na
minha experiência pessoal de vida? As pessoas têm muito falado em segregação
racial em nosso país, mas têm deixado passar ao largo a segregação religiosa.
O governo tem criado leis para colocar os
negros e pobres nas universidades públicas, mas a cultura negra não pode ser estudada
nas escolas que possuem direções evangélicas, sob a alegação de prática de
magia e adoração ao diabo. Páginas e páginas dos livros são puladas, os alunos,
nossas crianças mestiças, porque não há branco puro nesse país, são proibidas
de ler sobre a cultura da sua raça. Que tipo de inclusão social é esse? Que
tipo de amor é esse?
Começo a perceber que o Deus em que eu creio
é outro. O meu Deus não quer guerra por causa de terras na Palestina; não quer
fome e doença na África para que alguns brancos tenham diamantes nos dedos e
dinheiro demais nos bolsos; o meu Deus não quer várias denominações espalhadas
por aí, com seus pastores tirando dinheiro do povo sofrido e pobre; não quer um
representante legal mundial sentado num trono de ouro enquanto a Alemanha
matava milhões de pessoas, enquanto crianças são vendidas para exploração
sexual e o crime organizado toma conta do terceiro mundo até hoje; não quer que
os homossexuais sejam espancados até a morte só porque nasceram diferentes; não
quer a escravização da mulher, como ocorre em alguns países médio-orientais.
O meu
Deus quer que as pessoas sejam amadas e respeitadas, assim como o Seu Filho as amou
e respeitou, com todas as características, qualidades e defeitos a elas inerentes,
eis que assim por Deus concebidas e a nós concedidas. Desta feita, quem, então,
as poderá julgar?
Ah, sim, os ateus não creem que há um Deus.
Façam, por conseguinte, os ateus, da Ética o seu Deus. E, aqui, tomo as
palavras, não de Jesus Cristo, mas de Immanuel Kant, para dizer: “Age de tal
forma que tua ação possa ser considerada lei universal.” Eu sei, parece-se muito
com o antigo provérbio “Não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem”
e é essa a ideia. Segundo Kant, ética é toda ação que pode ser repetida por
todos, sem prejuízo para ninguém.
Será que nós estamos sendo suficientemente
éticos, independentemente de qualquer suposta religiosidade?
Que Deus nos perdoe e Kant também.
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