O meu olfato segue às ordens de um general maldito.
Tal como todos os lassos, raramente me desperta.
No entanto, ao despertar, envolve-me, pegando os braços,
Pernas, rompendo-me o livor e inebriando-me de odores,
Enleando-me, aos seios, com sentimentos crassos.
Uma vez, assim, envolvida, minha pele toma vida e cria.
Pela pele tudo posso!
Qualquer coisa que passar por mim, é com todo o corpo que eu cheiro e sinto.
De uma árvore eu sinto o musgo fresco e ácido, a umidade através dos poros,
O gosto verde, através do cheiro.
Do mar eu sinto o sal, a cura, o frio, através dos poros,
A solidão do mar, através do cheiro molhado.
Do rapaz moreno eu sinto o sabonete, a proposta e a invasão,
Enquanto minha pele é agredida por minúsculos soldados nus.
Os soldadinhos me invadem a carne com pequeníssimas bombas de perfume
E eu fico totalmente inebriada.
O perfume tornou-se, agora, uma capa de filme plástico, daquelas que cobrem tudo
E ele me cobre toda, da cabeça aos pés, deixando por último o nariz
,
Onde vai entrando agora lentamente, como o meu último sopro de vida,
Entorpecendo-me e me transtornando, ando já perdendo o ar!
Esgazeando, com a boca aberta, imploro por salvamento, quiçá um beijo.
Mas o rapaz é só um passageiro e se mantém no seu papel.
Quero controlar o olfato, desligar o pensamento,
Mas o general não permite!
Passa o vento e o perfume vem. Malditos soldadinhos infames!
Fecho os olhos de prazer. Será isso o prazer completo?
Amar alguém enquanto se é perdido por um odor tão espetacularmente envolvente?
Perder-se em delírio saboreando um delicioso biscoito fino
Feito de olhares, toques e odores de pele de menino?
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