
Há rosas negras no meu jardim.
Toda madrugada, antes de o sol nascer, eu me preparo para um novo dia, pintando-as de branco, azul, amarelo e vermelho.
Quem visita o meu jardim, elogia as cores vibrantes das minhas rosas, sem saber que são pinturas, artificiais. Eu sorrio e agradeço a gentileza, mantendo o sorriso trêmulo a já se desfazer.
Também visito jardins coloridos e percebi, ultimamente, em vários deles, o negrume em algumas rosas mal pintadas. Penso que a juventude me embotava o olhar e eu, freqüentemente, pensava que só eu tivera a estupenda idéia de colorir meu negro.
Percebo, hoje, que há rosas negras em todos os jardins e que ninguém nota o meu sacrifício porque todos estão preocupados com o seu próprio sacrifício.
Que pretensão a minha, achar que eu era tão especial e tivera sido escolhida pela escuridão!
Todos fomos escolhidos, a exercitar a colorida luz.
Então, eu pinto delicada e minuciosamente as rosas, colorindo o meu jardim negro, fazendo-o falsamente luminoso, a despeito da negrura da minha casa e atendo os visitantes no portão.
Ninguém pode entrar!
Quem entrou, não gostou...
Ninguém mais pode entrar...!!!