Sei
que muita gente vai me rotular de louca, mas os rótulos estão na moda e não vou
me preocupar com isso.
Há
algum tempo tenho sentido necessidade de falar sobre a maldade que vem
assolando a nossa sociedade. E não falo somente da violência física que vem se
abatendo sobre os cidadãos brasileiros, mas da violência moral, emocional, da
falta de ética, da crueldade estética, da total falta empatia. E para falar
disso, vou começar bem lá atrás, com o nascimento do capitalismo.
A
vida já era bem dura quando as pessoas mais abastadas possuíam terras e bens
que as pessoas menos abastadas trabalhavam arduamente para manter. E tudo ficou
muito pior quando a indústria e o comércio perceberam que poderiam auferir
lucros imensos oferecendo produtos úteis e imprescindíveis à população por um
preço altíssimo, embora tenham usado muito poucos recursos para tornar tais produtos
consumíveis.
Bem,
dando um bom salto na história, a fim de não me tornar enfadonha vemos, hoje,
uma infinidade de produtos inúteis, lixos publicitários, vendidos a preço de
ouro para pessoas que mal têm o que comer.
O
capitalismo não é ruim. A evolução é necessária! Quem vive nas grandes
metrópoles, quem não curte o campo e exerce profissões urbanas, precisa pagar
pelo trabalho de quem planta, colhe / extrai, transporta, produz / transforma,
vende e revende os produtos que consome, bem como os medicamentos produzidos.
Sim! São trabalhos valiosíssimos e necessários para a caminhada das sociedades
rural e urbana. Contudo, por que o lucro deve ser tão exacerbado? Por que não
se cobrar o preço justo? E por que esse lucro exagerado sempre vai parar nas
mãos de quem trabalhou menos ou nada?
O
capitalismo selvagem é ruim! O ser humano é insaciável e egoísta! Isso fez os
homens por trás das grandes empresas quererem sempre mais, sempre mais
dinheiro. Então, o marketing entrou na jogada... Através dos grandes
profissionais do marketing, as pessoas começaram a desejar adquirir coisas das
quais não precisam e a adquiri-las sem poder pagar por elas!
Os
homens não puderam mais sustentar suas famílias e as mulheres foram à luta.
Isso foi ótimo para a evolução feminina, mas foi péssimo para nossas crianças,
que começaram a ser criadas por pessoas que não conhecemos profundamente e que
possuem crenças e princípios diferentes dos nossos e, principalmente, que não
são as mães das nossas crianças, por mais profissionais que tentem ser.
Antigamente,
as férias escolares duravam quatro meses: julho, dezembro, janeiro e fevereiro.
Hoje, duram quinze dias em julho e o mês de janeiro, somente. Até mesmo as
crianças estão assoberbadas na escola, cursos, atividades... Falando somente
dos filhos da classe da média... Os pais trabalhando mais e mais, não têm tempo
de curtir seus filhos e procuram suprir esta falta com coisas materiais. Isso, associado
à violência urbana, faz com que as crianças estejam cada dia mais presas em
apartamentos, jogando videogames e reféns das redes sociais, incapazes de
socializar fisicamente.
Agora...
Falando das classes mais baixas... Sendo um pouco debochada, as férias podem
durar o ano inteiro, se nós englobarmos algumas comunidades e as zonas rurais
menos afortunadas. Nas escolas que funcionam, não há merenda escolar, nem vou
mencionar o motivo... Em suas casas, igualmente às crianças da classe média, os
pais estão trabalhando, em empresas, casas de família, hospitais, escolas ou no
tráfico de entorpecentes. Contudo, diferentemente das crianças da classe média,
elas não fazem cursos e atividades extracurriculares, nem estão sob os cuidados
de babás, porque os seus pais não podem custear isso. Diferentemente das
crianças da classe média elas não possuem perspectivas.
Mas
essas crianças e adultos, de todas as classes desse país, têm uma coisa muito
importante em comum: o consumismo exacerbado. Então vemos pessoas que moram de
aluguel, mas andam em carro do ano. Muitas vezes, esse carro tem o IPVA
atrasado, mas o dinheiro da gasolina, da manutenção e da prestação poderiam
certamente pagar a prestação da casa própria. Vemos pessoas sem dinheiro para
comprar a comida do dia a dia, sem dinheiro para a escola dos filhos, para um
plano de saúde para a sua família, fazendo festas imensas e postando fotos
maravilhosas nas redes sociais, fazendo churrascos semanais e ostentando
correntes de ouro e telefones celulares caríssimos, vemos crianças que residem
no interior, que não vão à escola, mas brincam em tablets e notebooks modernos.
Pelo
amor de Deus! Não estou dizendo que uma pessoa não tem o direito de se divertir
e de alegrar a sua família com uma festa. Estou dizendo simplesmente que tudo
na vida é uma questão de prioridades e os valores da nossa sociedade estão
invertidos.
Infelizmente,
atualmente se valorizam mais as coisas que as pessoas. A vida virou lixo.
Mata-se uma pessoa por causa de um relógio, de um aparelho celular. A moral e a
ética estão agonizando sob os pés de uma sociedade extremamente hedonista.
Eu
me lembro de quando era criança e assistia a um programa infantil em que havia
uma grande roleta que o apresentador rodava e era perguntado a uma criança, ao
telefone, qual prêmio ela gostaria de ganhar. Na grande roda, havia escritos vários
nomes de brinquedos: boneca, patinete, computador, jogo de tabuleiro,
bicicleta, mil reais. Eu ficava, de casa, torcendo pelos brinquedos que eu
gostaria de ganhar e as crianças que conseguiam falar ao telefone torciam para
ganhar, em sua maioria, a bicicleta ou o computador. Há cerca de dez anos
atrás, quando minha filha era pequena e também assistia ao mesmo programa, eu
via, indignada, todas as crianças ao telefone pedirem para ganhar mil reais.
Agora
me diga, o que uma criança de sete ou oito anos de idade pretende fazer com mil
reais? Óbvio! Comprar um monte de coisas que são oferecidas na TV e das quais
ela não precisa, tal qual nós, adultos, quando compramos mais uma blusa, mais
um par de sapatos, uma TV mais moderna, um telefone celular com mais recursos
completamente diferentes de telefonar para alguém.
Indo
um pouco mais além e ainda sobre o hedonismo, não podemos nos esquecer das
pessoas desequilibradas que cometem violências e abusos físicos e psicológicos
contra os outros, inclusive contra as crianças.
Temo
que estejamos vivendo numa sociedade cada vez mais psicótica, no sentido
literal da palavra. Segundo a wikipedia, psicopata é a “designação atribuída para um indivíduo com um padrão comportamental e/ou
traço de personalidade, caracterizada em parte por um comportamento
antissocial, diminuição da capacidade de empatia/remorso e baixo controle
comportamental ou, por outro, pela pertença de uma atitude de dominância
desmedida”. Alguém duvida que nós todos estejamos afetados pela
psicopatia, em algum nível? Roubos, furtos, agressões físicas, homicídios,
torturas, pedofilia, e falo de nós todos mesmo quando falo da total falta de
empatia, do egoísmo, individualismo, pequenas contravenções, furto de luz,
água, gatonet, violência doméstica, desrespeito racial, religioso e de classes,
homofobia, mesmo aquela velada do tipo “eu respeito, mas não gostaria que meu
filho fosse...”, xenofobia, tudo isso, alguma dessas coisas cada um de nós é
capaz de fazer independentemente do mal que possamos vir a fazer a outras
pessoas, desde que fiquemos saciados.
Devemos comer as comidas da TV, até ficarmos saciados.
Devemos vestir as roupas que as atrizes vestem, até ficarmos saciadas, ter os
aparelhos eletro-eletrônicos que aparecem na TV, até ficarmos saciados, devemos
viajar para os lugares que os nossos amigos mais ricos foram, até ficarmos
saciados, devemos ofender nossos ímpares, até ficarmos saciados, bater em
nossos desafetos ou ver alguém fazer isso, até ficarmos saciados, devemos possuir
as coisas que as pessoas possuem nos filmes e novelas, até ficarmos saciados.
Mas não percebemos que o sentimento de hedonismo não permite nunca que nos
saciemos. Sempre estaremos famintos e sedentos de algo mais, de algo que o
capitalismo nos promete, nos demonstra, nos oferece, mas nunca entrega. E nós
seguiremos sempre, correndo atrás do tempo, cada vez mais rápido, atropelando
as pessoas e as coisas, adquirindo coisas de que não precisamos, tentando
encontrar o que precisamos, mas não sabemos o que é, porque somos incapazes de
ficar em silêncio e ouvir os nossos próprios desejos. Estamos sendo
bombardeados com desejos que não são nossos e estamos sendo profundamente
infelizes por isso, mas se comprarmos uma bolsa nova ou um novo I-Phone vai
ficar tudo bem.
Ou não...